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“Com a ABNT PR 2060, as empresas e organizações brasileiras têm um caminho claro para seguir em direção à neutralidade de carbono, fortalecendo seu compromisso com o meio ambiente”

Mario William Esper, presidente da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), fala sobre a nova norma que estabelece diretrizes para a contabilização e compensação de emissões de poluentes

 

Em julho de 2023, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) lançou a Prática Recomendada ABNT PR 2060, cujo objetivo é demonstrar a neutralidade das empresas nas emissões de gases de efeito estufa em suas operações. Em uma conversa sobre o assunto, a Associação Brasileira de Conformidade (Abrac) teve uma entrevista exclusiva com o presidente da ABNT, Mario William Esper.

Durante a entrevista, Esper abordou a importância e as diretrizes da nova norma brasileira. “Seu uso incentiva mudanças reais de comportamento, ajudando a impulsionar a sociedade para uma economia de baixo carbono”, disse o executivo.

Além disso, o presidente destacou outras iniciativas da ABNT voltadas para a redução dos impactos ambientais. Entre elas, está a criação da primeira norma ISO para a determinação da métrica de desmatamento, estabelecendo procedimentos para a medição da colheita ou extração de vegetação nativa em áreas com atividade de manejo.

Esper ressaltou os desafios ambientais atuais, como a poluição, o uso excessivo dos recursos naturais, a expansão da fronteira agrícola em detrimento dos habitats naturais e a expansão urbana, que estão conduzindo muitas espécies vegetais e animais à extinção.

A entrevista na íntegra pode ser conferida a seguir:

 

Abrac – Qual é o propósito da Prática Recomendada (PR) 2060 lançada pela ABNT?

Mario William – Lançada durante a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, (COP27), no Egito, a Prática Recomendada ABNT PR 2060 estabelece requisitos a serem cumpridos por empresas e entidades que buscam demonstrar a neutralidade de carbono por meio da quantificação, redução e compensação das emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Baseada em um documento do Organismo Nacional de Normalização Britânico (BSI), a Prática Recomendada foi adaptada com novos conceitos alinhados às normas internacionais ISO relacionadas à redução de emissões de gases de efeito estufa.

 

Abrac – Quais são as principais diretrizes e normas contidas na PR 2060 para comprovar a neutralidade de carbono?

Mario William – O documento apresenta determinação clara de carbono neutro e um meio crível de determinar e demonstrar a neutralidade. A Prática Recomendada também incentiva as empresas e entidades a trabalharem em direção à redução das emissões de gases de efeito estufa e a alcançar reduções genuínas nessas emissões. Seu uso incentiva mudanças reais de comportamento, ajudando a impulsionar a sociedade para uma economia de baixo carbono.

 

Abrac – Qual é a importância da comprovação da neutralidade de carbono nas operações de empresas e instituições?

Mario William – Com a implementação da ABNT PR 2060, as empresas e organizações brasileiras têm agora um caminho claro para seguir em direção à neutralidade de carbono, fortalecendo seu compromisso com o meio ambiente e criando um impacto positivo no combate às mudanças climáticas. A expectativa é de que essa nova Prática Recomendada inspire outras nações e organizações a adotarem medidas concretas rumo à sustentabilidade, reforçando a importância da cooperação global na busca por um futuro mais verde e resiliente.

 

Abrac – Quais são os principais benefícios para as empresas e instituições que adotam e seguem as normas da PR 2060?

Mario William – O principal benefício é a existência de um instrumento que vai auxiliar os órgãos de meio ambiente do país e as empresas a quantificar a redução das emissões de gases do efeito estufa. Isso abre portas para um mercado de carbono com segurança jurídica e que remunera de forma justa aqueles que cumprirem os requisitos técnicos para neutralidade do carbono.

 

Abrac – Além da PR 2060, quais outras iniciativas a ABNT tem desenvolvido para promover a sustentabilidade e a conformidade com padrões técnicos?

Mario William – A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), como representante oficial no Brasil da International Organization for Standardization (ISO), lidera junto ao Reino Unido e o Canadá o principal Grupo Consultivo Estratégico em ESG do mundo no TMB – Technical Management Board – órgão máximo técnico da ISO.

Na prática, a ABNT é protagonista nos estudos para a criação de uma normalização global sobre ESG que define parâmetros, diretrizes e critérios com indicadores de qualidade, alinhados a normas reconhecidas e amplamente aplicadas mundialmente, como a ISO 9001 e a ISO 14001.

Dessa forma, a ISO e a ABNT estão construindo juntas um “Sistema de Gestão da Qualidade em ESG”, para que as empresas no mundo inteiro possam padronizar processos no que diz respeito a aspectos de administração e gestão corporativa em que questões como o impacto de uma empresa na sociedade, no meio ambiente ou sua relação com seus próprios funcionários são levados em consideração na tomada de decisões e geração de valor.

A ABNT, como fórum de normalização do Brasil e único representante do Brasil nos fóruns internacionais, tem sido protagonista na participação nos trabalhos de elaboração de normas relacionadas a temas sensíveis sobre meio ambiente e sustentabilidade, como, por exemplo, a criação de métrica para mensuração de desflorestamento, incêndios florestais, biodiversidade e economia circular, além de frentes como a normalização de carbono neutro, classificação de resíduos perigosos, combustíveis renováveis, entre outros tantos temas de preocupação global.

A agenda insere de vez o Brasil, através da ABNT, no papel de relevância e referência no desenvolvimento, criação e implementação de melhores práticas e normas – mola propulsora da inovação – apoiando a sociedade civil e os órgãos públicos garantindo maior e melhor qualidade dos produtos e serviços, segurança das pessoas e desenvolvimento econômico e sustentável do país.

 

Abrac – Como avalia a importância da normalização para a contribuição de boas práticas relacionadas ao ESG?

Mario William – A adoção de práticas sociais, ambientais e de governança entrou para a agenda estratégica de empresas de diferentes setores e passou a dominar a pauta do ambiente corporativo. No entanto, para que o ESG se torne efetivamente uma estratégia de negócios é necessário que se estabeleçam regras e padrões mundiais para suportar o processo decisório.

Para contribuir com a adoção de parâmetros para a adoção e avaliação desses critérios, a ABNT lançou em dezembro de 2022, a Prática Recomendada 2030 – Ambiental, social e governança (ESG) – Conceitos, diretrizes e modelo de avaliação e direcionamento para organizações.

Este documento, primeiro no mundo apresentado por um Organismo de Normalização, alinha os principais conceitos e princípios na sigla ESG, em inglês para “environmental, social and governance”, e orienta os passos necessários para incorporá-los na organização.

Para tanto, a ABNT PR 2030 apresenta os critérios mais relevantes, segmentados pelos eixos ambiental, social e de governança, apoiando a organização na identificação de seus temas materiais dentro da abordagem ESG.

A Prática Recomendada estabelece ainda, modelo de avaliação e direcionamento, composto por escala de cinco níveis evolutivos, que permite à organização identificar seu estágio de maturidade em relação a um determinado critério ambiental, social ou de governança e estabelecer metas de evolução. A norma é aplicável a todos os tipos de organizações, compreendendo empresas privadas ou públicas, entidades governamentais e organizações sem fins lucrativos, independentemente do porte e área de atuação.

 

Abrac – Gostaria de acrescentar mais alguma informação?

Mario William – A ABNT é também protagonista em outros trabalhos internacionais, tendo sido responsável pela proposição de uma norma internacional que define requisitos e procedimentos básicos para combate a incêndios florestais, baseada na Prática Recomendada ABNT PR 1014:2021 – Guia de requisitos e procedimentos básicos para combate a incêndio florestal.

A ideia é estabelecer condições e procedimentos para o combate de focos em áreas de vegetação, matas e florestas, visando contribuir para que as agências públicas governamentais, bem como o setor privado e a população tenham conhecimentos gerais sobre o tema.

A futura norma está sendo discutida na Organização Internacional de Normalização, a ISO, no âmbito do Comitê ISO/TC 92 (Fire Safety), pelos especialistas dos diversos países que participam neste fórum internacional.

A norma da ABNT, que servirá de base para a norma internacional, foi elaborada utilizando as melhores práticas adotadas no mercado brasileiro e referências técnicas estrangeiras e internacionais.

A ABNT também vem liderando os debates internacionais da ISO para a criação da primeira norma para determinação da métrica de desmatamento, por meio do estabelecimento de procedimentos para medição da colheita ou extração de vegetação nativa em áreas com atividade de manejo.

A poluição, o uso excessivo dos recursos naturais, a expansão da fronteira agrícola em detrimento dos habitats naturais, a expansão urbana, tudo isso está levando muitas espécies vegetais e animais à extinção. A cada ano, aproximadamente 17 milhões de hectares de floresta tropical são desmatados. As estimativas sugerem que, se isso continuar, várias espécies de animais desse ecossistema poderão ser extintas dentro dos próximos 30 anos.

 

Fonte: Assessoria de imprensa da Abrac