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Clipping – O Globo – Prédio no Leblon onde três pessoas morreram passa por inspeção de gás

Profissionais da Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa); da Naturgy, distribuidora de gás canalizado do município; e peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) realizam, na manhã dessa sexta-feira, dia 25, uma vistoria na rede, na tubulação e nas instalações de aquecedores de água do Condomínio Solar Satélite, situado no número 980 da Avenida Bartolomeu Mitre, no Leblon, na Zona Sul do Rio. Na última terça-feira, Mateus Correia Viana e Nathalia Guzzardi Marques, ambos de 30 anos, foram encontrados mortos, no box do banheiro do apartamento 601. Em 2012, Camila Paoliello Ribeiro, de 24, morreu por “intoxicação exógena por monóxido de carbono”, em circunstâncias semelhantes, na unidade 608.

 A inspeção foi requisitada pela delegada Natacha Alves de Oliveira, titular da 14ª DP (Leblon), que investiga a morte do casal. De acordo com o laudo de necropsia, os corpos de Mateus e Nathalia apresentam “sinais gerais de asfixia, com coloração carminada dos tecidos, sugestivo de intoxicação exógena”. O documento, assinado pelo perito Claudio Amorim Simões, do Instituto Médico Legal (IML), descreve que foram solicitados exames complementares para que se defina se a intoxicação ocorreu por monóxido de carbono. A principal suspeita até o momento é que os jovens tenham sido vítimas de um acidente doméstico, em decorrência de problemas no aquecedor a gás da água do apartamento onde estavam.

Vice-presidente da Associação Brasileira de Avaliação da Conformidade (Abrac), o engenheiro Leonardo Tozzi Pinheiro destaca a importância da manutenção anual nos aquecedores de gás e ainda do respeito aos limites operacionais descritos nos manuais dos aparelhos, como a distância da área de ventilação e ainda características das chaminés.

— Após instalado, é recomendável que o aquecedor passe por manutenção de empresas especializadas, pois há cabos de conexões que podem se deteriorar com o tempo. É importante ainda que o consumidor, ao fazer uma reforma, se atente aos detalhes do cômodo em que o aparelho está instalado. Precisamos trabalhar a conscientização dos riscos para evitarmos novas tragédias — explica.

Professor titular Medicina Legal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o perito Nelson Massini ressalta que, nas mortes de Camila, Mateus e Nathalia, os basculantes do banheiro estavam fechados, o que mede a renovação de ar do ambiente, com circulação cruzada para entrada do oxigênio e saída do monóxido de carbono:

— Estudos mostram que 200 partes por milhão desse gás provocam dor de cabeça; 400, enjoos; 1.000, sintomas mais severos; e de 2.000 a 2.500, a pessoa é levada a óbito. Então, em um intervalo de até 20 minutos nesse tipo de ambiente sem ventilação adequada, as vítimas têm a perda da consciência, seguida da morte cerebral e logo da morte completa, com paradas cardíacas e respiratórias. E muitas das vezes elas passam ao estágio de inconsciência direto, sem perceber nenhuma anormalidade inicial.

A estudante de Araçatuba, no interior de São Paulo, foi encontrada morta em 11 de setembro de 2012. De acordo com o registro de ocorrência feito na 14ª DP à época, um policial militar do 23º BPM (Leblon) comunicou ter sido acionado para ir ao condomínio por volta de 8h. Chegando no local, homens do quartel do Corpo de Bombeiros da Gávea o informaram que Camila havia sido encontrada desacordada por um amigo paulista, que viera ao Rio passar o fim de semana. Na delegacia, o jovem relatou que, como a estudante demorara no banho, ele decidiu ver o que havia acontecido e a encontrou caída no box, com o chuveiro aberto.

Um laudo complementar do exame de necropsia feito no corpo da jovem concluiu, em 22 de agosto de 2013, que a causa de sua morte foi a intoxicação, por “ação química”. O documento, assinado pela perita legista Virgínia Rosa Rodrigues Dias e o qual O GLOBO teve acesso, atesta a detecção de carboxihemoglobina no sangue acima de 40% — a concentração de gás, o tempo de exposição, a intensidade da atividade física e a própria sensibilidade do indivíduo determinam esse percentual. Nessa quantidade, os sintomas apresentados vão desde forte dor de cabeça, latejamento das têmporas, fraqueza, tontura, diminuição da visão, náusea, vômito, aceleração da respiração, até o aumento da chance de colapso e síncope.

Já os corpos de Mateus e Nathalia foram encontrados por amigos do rapaz, na noite de terça-feira. Eles chegaram a acionar o quartel do Corpo de Bombeiros da Gávea, mas, por volta de 22h30, constataram que o casal já estava morto. O sumiço do casal já preocupava as duas família há pelo menos 24 horas. Parentes da psicóloga chegaram a fazer divulgar pedidos de informações sobre o paradeiro dela nas redes sociais.

Fonte: O Globo

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