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“Acredito que o grande acontecimento de 2021 foi a assinatura do convênio para a criação do Laboratório de Infraestrutura da Qualidade”

Na oportunidade, o vice-presidente de Produtos da Abrac, Marco Roque, fez um balanço de 2021 e comentou sobre as expectativas para este ano

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O vice-presidente de Produtos da Associação Brasileira de Avaliação da Conformidade (Abrac) e presidente da área de Certificações de Produtos da Associação Iex Certificações, Marco Roque, concedeu entrevista à entidade para fazer um balanço de 2021 e comentar sobre as expectativas para este ano.

Roque possui experiência comprovada nos segmentos de infraestrutura, indústrias de processos, construção civil e transporte de massa. Além disso, possui vivência em empresas multinacionais americanas e europeias. É formado em administração de empresas pela Universidade Mackenzie, engenharia elétrica na Escola de Engenharia Mauá (IMT), e MBA em gestão por IIAE Aix – Aix-en-Provance – France.

Fundada no Rio de Janeiro, em outubro de 2008, a Iex iniciou as suas atividades de certificação no setor de equipamentos elétricos para atmosferas explosivas em função da expertise de seus sócios fundadores, com larga experiência no segmento do petróleo, da indústria de máquinas, em laboratórios e organismos de certificação.

Leia na íntegra.

Abrac – Qual o balanço que você faz para 2021 na área da avaliação da conformidade?

Marco Roque – Podemos dizer que foi um bom ano. Nós aprendemos a conviver com a pandemia, que se iniciou em 2020, e tivemos uma dificuldade enorme devido as empresas de entretenimento estarem fechadas, como hotéis, restaurantes, coffee shops, e isso fez com que uma série de segmentos fossem paralisados.

Posso dizer que em 2021, houve um bom crescimento nas áreas ligadas a construção civil, isso puxa toda uma cadeia, não é só pensar em cimento, aço, vidro, mas toda a parte de fios, cabos, interruptores, plugues e tomadas.

O setor de brinquedos teve um crescimento expressivo também pela boa participação do câmbio em relação aos produtos chineses. A área de bens de informática, principalmente a parte de infraestrutura, se fortaleceu tendo em vista que principalmente servidores foram necessários para fazer face a todas as essas atividades remotas que nós tivemos.

A área de eletrodoméstico foi bastante afetada pela parte de entretenimento, mas foi pujante no ano passado e teve um crescimento significativo. O que realmente não seguiu como devido foi a área de óleo e gás, ocorreram brigas o ano inteiro com relação ao preço do combustível com a opinião pública bastante crítica em relação aos preços pela Petrobrás e isso fez com que os investimentos ficassem praticamente paralisados.

O único setor que foi muito ruim foi o médico. Em 2020, nós tivemos a pandemia e houve um boom em relação a vários equipamentos, não só a respiradores, mas tornou-se bastante ruim no ano passado devido a mudança de eficácia da Portaria nº 384 de junho de 2021, e que foi postergada por três anos. Isso foi péssimo, principalmente para os laboratórios.

Abrac – Na sua opinião, quais foram as principais conquistas do segmento em 2021?

Marco Roque – Nós iniciamos 2021 diante de um cenário de incerteza. O mais importante foi a conclusão da modernização do Modelo Regulatório do Inmetro, com amplo debate. Alguns casos, até por problemas técnicos, foram repetidos duas ou três vezes, mas ninguém na sociedade pode reclamar que não participou. O Inmetro foi extremamente democrático e convidou a indústria, a área toda de qualidade do país, todo mundo que podia participar, participou e o modelo ficou muito bom. Estamos aguardando a assinatura do programa para o fim de fevereiro, e nós acreditamos que criará uma grande expectativa no setor.

Outro ponto a destacar em 2021, foi uma gestão muito responsável do Inmetro com a criação do Plano Estratégico.  Primeiro Plano Estratégico para valer na história do Instituto. Juntaram muitas cabeças pensantes e fizeram um plano muito bom. A Abrac teve uma participação muito positiva através do superintendente Masao Ito e do presidente Synésio Batista da Costa. Acredito que isso vai guiar o Inmetro para um caminho bastante criativo e inovador para o futuro.

Houve junto com o Plano Estratégico do Inmetro, o desenvolvimento da Política Nacional de Infraestrutura da Qualidade e acho que o ponto mais importante disso é que vão os governos e ficam o legado. Uma das dificuldades que a gente tinha é que mudava o governo, e quando alterava a diretoria do Inmetro, substituía totalmente o foco. Você pode ter outros gestores, mas o caminho que o Instituto está trilhando não vai ser afetado por mudanças no que diz respeito ao governo federal.

Acredito que o grande acontecimento de 2021 foi a assinatura do convênio para a criação do Laboratório de Infraestrutura da Qualidade. Esse convênio vai ter a participação do Inmetro, da Abrac e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e junta forças para realmente escolher tecnologias que vão governar o nosso futuro. Acredito que vai ser assim um evento totalmente inovador no que diz respeito a esse Laboratório.

No âmbito interno da Abrac, tivemos uma mudança bastante significativa na diretoria. Os novos dirigentes que entraram, apesar de jovens, são muito bons. Acredito que a entidade vai estar mais preparada para o futuro porque essas pessoas que estão suportando todos esses programas, que a Associação precisa desenvolver, são extremamente competentes e bem preparados. Vejo um futuro muito brilhante.

Abrac – No âmbito da avaliação da conformidade, quais são as suas expectativas para 2022, principalmente em relação ao lançamento da modernização do Modelo Regulatório do Inmetro, Laboratório de Infraestrutura da Qualidade, entre outros temas?

Marco Roque –Vejo como algo que permeou os programas, foi a Lei da Liberdade Econômica. A lei é extremamente complexa, de difícil execução, mas as primeiras portarias que foram emitidas em 2021 e agora em 2022, levando em conta a Lei da Liberdade Econômica, são bastante animadoras. O que nós vamos precisar é que as nossas certificadoras, laboratórios e inspetoras entendam que as oportunidades não vão surgir como antigamente. Antes você tinha uma série de ações mandatórias/obrigatórias que todo mundo devia cumprir e o pessoal de certa forma usufruía desse benefício da maneira que os modelos foram desenhados.

O pessoal via ter que procurar nichos profissionais para aquele que deseja perpetuar o seu negócio. Não são só casos relativos à certificação obrigatória, mas serviços essenciais para o País, como validação e verificação de processos de produtos, mobilidade urbana, cidades inteligentes, ou seja, as certificadoras, os laboratórios e as inspetoras, vão ter que abrir a cabeça e sair da zona de conforto e de fato ir disputar o mercado como o mercado merece.

Abrac – Quais vão ser a principais mudanças e impactos com a modernização do Modelo Regulatório do Inmetro na área de avaliação da conformidade?

Marco Roque – As principais mudanças são que o sistema se baseia em gerenciamento de risco, ou seja, produtos que demandam e tenham responsabilidade e que possam afetar a segurança, saúde e o meio ambiente, não só do consumidor, mas também do trabalhador em si, trabalhadores que vão estar nessas áreas de risco, estão cobertos por modelos sólidos e já tradicionais.

Um item que eu vejo como muito importante foi o que se chamou de uma análise transversal dos processos. Então, ao invés de você se concentrar em um produto propriamente dito, você se envolve em tudo que está naquele ambiente de trabalho. Dessa maneira, as coisas acabam ficando mais completas.

Vejo dois problemas na modernização do Modelo Regulatório do Inmetro: o primeiro é a reformulação dos arcabouços legais, onde ideias não faltam. Existem muitas ideias de como isso pode evoluir para dar retaguarda para o sistema. Posso citar alguns exemplos. As nossas instituições que fazem defesa de mercado têm pouco poder para realmente agir, e mesmo quando tem, encontram dificuldade, porque muitas vezes o fornecedor está no exterior. Então, como é que nós vamos conseguir controlar as compras de internet que chegam no país e sem saber de onde estão vindo? Esse é um assunto que ainda vai ser bastante aperfeiçoado na modernização.

O outro problema é como autofinanciar a vigilância de mercado. Hoje o Inmetro tem condições de fazer isso porque os produtos são certificados e a verificação de mercado que o Instituto faz é muito mais baseada em selos de qualidade ou em regulamentações do Ministério da Agricultura ou com relação ao próprio Ministério do Trabalho e etc. Na hora que tivermos isso no mercado aberto pela Lei de Liberdade Econômica, o Inmetro vai estar envolvido em todo esse setor e a maioria não vai ter marca para você conferir. Não é só você chegar em um ponto de venda e procurar um produto e retirar para fazer um ensaio, não vai ter isso porque vai estar vindo de tudo que é lugar, e não é uma situação simples de ser resolvida.

O que acho mais importante é quem vai abrir a primeira porta. A partir do instante que abrir a primeira porta, nós certificadores, o regulamentador, a indústria, os importadores, os portais de vendas, vão conseguir se unir e fazer com que isso seja autofinanciado. Nos parece ser uma situação muito promissora, não só para a sociedade, mas para o nosso setor como um todo.

Fonte: Assessoria de Imprensa da Abrac