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“A certificação do produto vai passar a ter mais relevância”

Francisco Barroca, diretor geral da CERTIF, organismo de certificação nacional de Portugal, concede entrevista ao Jornal Vida Económica e fala sobre como o setor se adaptou ao “novo normal”

O diretor geral da CERTIF, organismo de certificação nacional de Portugal, Francisco Barroca, concedeu entrevista ao Jornal português Vida Económica para fazer um balanço sobre 2020 e pontuar detalhes sobre o segmento.

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Vida Económica – Que análise faz ao ano de 2020?

Francisco Barroca – O ano de 2020 ficará para sempre como um “ano de má memória”. Nunca na nossa vida profissional havíamos sido confrontados com tais fatores exógenos que afetaram a vida das empresas, com uma perda de valor muito significativa, mas nada que se compare à situação que inúmeras famílias viveram e estão a viver. Embora a CERTIF e os seus colaboradores não tenham sido, felizmente, expostos a situações graves, as marcas deste ano ficarão, para o bem e para o mal.

VE – Quais foram os pontos bons e maus na atividade de certificação?

FB – A certificação é uma garantia dada por uma terceira parte e, para isso é necessário efetuar a avaliação de que o produto ou o sistema cumprem com os requisitos definidos. Ora, o pôr em causa a possibilidade de realizar corretamente essa avaliação tem sido o “ponto mau” da atividade de certificação. Por outro lado, em termos positivos, há a realçar a capacidade de adaptação dos organismos de certificação e a aceitação por parte das empresas, como forma de minimizar os impactos negativos.

VE – Os resultados de atividade da CERTIF corresponderam às expetativas?

FB – A questão que coloca pode ter duas respostas e de sentido oposto. Se compararmos com as expetativas que tínhamos para 2020, ficamos muito aquém, porque estávamos num ciclo de crescimento, com novos projetos que ficaram suspensos. Mas, se considerarmos o que foi a realidade de 2020 e o impacto económico que teve, se nos situarmos em março passado quando o País confinou, então temos de considerar que excedemos bastante às expetativas, quer no que se refere aos resultados financeiros, quer em relação à atividade, uma vez que cumprimos o plano quase na sua totalidade e os nossos clientes mantiveram-se conosco, com raríssimas exceções. O fato de o nosso core-business serem os produtos e serviços contribuiu para isso.

VE – A pandemia obrigou as empresas a assumirem uma atitude disruptiva, inovando os negócios e formas de trabalho. Isso trouxe novos desafios para a certificação?

FB – Sem dúvida. Os organismos de certificação, como qualquer empresa, tiveram de se reorganizar, quer no seu modelo de funcionamento, quer na sua adaptação, para responder às necessidades de mercado e às suas próprias contingências. Não podemos esquecer que, no que se refere à certificação de produtos, para além dos ensaios, há que auditar o controle de produção e, em algumas empresas, não são permitidas imagens. Toda esta realidade obrigou a uma constante adaptação.

VE – A CERTIF está também a viver esta mudança?

FB – A CERTIF, como qualquer outro agente econômico, teve, também de se adaptar ao momento disruptivo que atravessamos e que continuamos a atravessar. O teletrabalho, sempre que possível, foi implementado, a análise de risco em termos das avaliações ocupou bastante tempo do nosso planejamento, mas sobressaiu um extraordinário espírito de equipe e um foco nas empresas que nos permitiu gerir o efeito surpresa e nos está a ajudar na mudança a que não podemos, nem queremos, fugir.

VE – Neste momento, o que mais procuram as empresas junto da CERTIF?

FB – O apoio à exportação é a grande prioridade da CERTIF e, por isso, muitas solicitações para a certificação de produtos e marcação CE visam obter certificados que permitam responder às exigências seja de clientes, seja de requisitos legais para acesso ao mercado. Outra área é a das empresas que trabalham com ares condicionados e bombas de calor que contêm gases fluorados e cuja certificação é obrigatória de acordo com o regulamento comunitário.

VE – Como irá ser o pós-Covid?

FB – Pela situação em que se encontra ainda a pandemia, o pós-covid parece-nos, ainda, muito longe e, no curto prazo, iremos viver uma continuação do ano anterior. No entanto, sabemos que, quando chegarmos ao “novo normal”, haverá necessidade de algumas adaptações e introdução de medidas que a experiência deste período nos trouxe, nomeadamente no que se refere às ações de avaliação e a um relacionamento com as empresas que englobe, de forma adequada, o modo presencial e o modo remoto, mas preservando sempre o rigor que o processo de certificação exige.

VE – Que recomendações daria neste momento?

FB – A recomendação que daria é que as empresas não devem abrandar na atenção aos requisitos que suportam a certificação e, logo, a conformidade dos produtos e sistemas. É nossa convicção que a certificação do produto vai passar a ter ainda mais relevância, quer em termos absolutos, quer comparando com a certificação de sistemas.

VE – No pós-Covid há necessidades e desafios do passado que se mantêm no presente e no futuro. Quais?

FB – Como disse na resposta à questão anterior estamos convictos que a certificação de produto vai ter uma procura acrescida. Não esqueçamos, como no inicio do 1º confinamento, quando muitos falavam, ainda que não raras vezes de forma incorreta, em certificação daqueles produtos essenciais de proteção individual, e falava-se porque foi reconhecida a importância da certificação como garantia para a conformidade e como exigência legal em alguns casos.

VE – A cooperação e a constituição de parceria irão ser determinantes para todos, inclusive para a CERTIF?

FB – A CERTIF segue, desde o seu início, a política de estabelecimento de parcerias noutros países e da participação em Acordos Mútuos que permitam conceder marcas comuns e reconhecimento de certificações. Quando os nossos clientes procuram novos mercados, a CERTIF tenta sempre encontrar parcerias locais que possibilitem às empresas o acesso à certificação dos países destinatários com custos muito inferiores na medida em que são aceitas as auditorias da CERTIF e os ensaios realizados em laboratórios nacionais.

Fonte: Vida Económica