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“A Abrac tem uma importância fundamental por refletir a opinião coletiva dos organismos certificadores”

Em entrevista à Abrac, José Joaquim do Amaral Ferreira, vice-presidente da entidade fala sobre sua trajetória no segmento de qualidade.

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O vice-presidente de Sistemas e Pessoas da Associação Brasileira de Avaliação da Conformidade (Abrac), José Joaquim do Amaral Ferreira, concedeu entrevista exclusiva à entidade para comentar sobre sua trajetória no segmento de qualidade.

Ferreira possui graduação em Engenharia Mecânica de Produção pela Universidade de São Paulo (USP), mestrado em Industrial Engineering – Stanford University, mestrado em Engenharia de Produção e doutorado em Engenharia (Engenharia de Produção) também pela USP. Atualmente é professor assistente doutor ms-3 da USP, presidente do Conselho Curador da Fundação Carlos Alberto Vanzolini, conselheiro do Conselho Superior da Indústria da Construção (Consic) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), além de ter sido vice presidente do IQNet – The International Certification Network. Atua principalmente em Gestão da Qualidade e Certificação de Sistemas de Gestão. É acadêmico da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).

De acordo com o vice-presidente, em 1987 houve um grande movimento no Brasil em prol da melhoria da qualidade. O Ministério da Indústria e Comércio lançou um edital com uma série de projetos para estabelecimento da base teórica para o aperfeiçoamento do segmento no Brasil. A Fundação Vanzolini venceu a publicação que tratava da Tecnologia Industrial Básica (TIB), com um item que estabelecia as bases para normalização, metrologia e avaliação da conformidade.

“O trabalho foi profundo e abrangente; comandado pelo professor e doutor Alberto Ricardo von Ellenrieder, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e com a minha participação. Na sequência, foram selecionadas três instituições no Brasil para avaliarem o que havia de mais avançado no mundo em termos de Gestão da Qualidade. Foram elas, a Fundação Vanzolini, de São Paulo, o Instituto Brasileiro de Qualidade Nuclear (IBQN), no Rio de Janeiro, e a Fundação Cristiano Otoni, de Minas Gerais”, explicou.

Segundo Ferreira, cada uma das entidades escolheu um país para fazer uma missão onde seriam avaliadas as melhores práticas e como transferi-las para o Brasil. A Fundação Vanzolini ficou com os Estados Unidos, o IBQN com a Inglaterra, e a Fundação Cristiano Otoni com o Japão.

Dessa maneira, em 1988, Ferreira e um grupo de pessoas selecionadas foram para a Inglaterra, onde tiveram a oportunidade de participar de um extenso programa de conhecimento da realidade inglesa de Gestão da Qualidade, que incluiu um treinamento da qualificação de “Lead Assessors” para avaliação de sistemas de gestão baseados na norma inglesa BS5750 que deu origem à série ISO 9000. “Foi o primeiro grupo de auditores no Brasil a obter essa qualificação, incluindo técnicos do Inmetro que participavam dessa missão”.

Ao voltarem para o Brasil, a Fundação Vanzolini decidiu que seria parte de sua missão instituir uma unidade de negócios para atuar na certificação de sistemas da qualidade com base na recém lançada série ISO 9000. “Fui encarregado de montar essa estrutura e no final do ano 2000 obtivemos a primeira acreditação como Organismo de Certificação de Sistemas OCS-001 junto ao Inmetro. A partir daí, começamos a dura batalha de partir do zero até chegarmos ao que temos hoje”, comentou.

Para o vice-presidente da Abrac, é possível destacar algumas conquistas realizadas durante a trajetória, como: a IQNET, rede global que conta com cobertura internacional e reconhecimento mútuo entre os membros, que deu projeção internacional à Fundação Vanzolini, bem como a criação da ABACC (Associação Brasileira de Avaliação e Certificação da Conformidade) em 2001, precursora da Abrac.

Leia a entrevista na íntegra.

Abrac – Como avalia a importância da área de Sistemas no âmbito da avaliação da conformidade?

José Joaquim do Amaral Ferreira – O conceito de Sistema de Gestão parte do princípio que existem vários subsistemas interdependentes trabalhando para um objetivo comum. Isso significa que uma organização deve se estruturar para que as partes dela conheçam e trabalhem na direção do objetivo comum. Então em vez de uma empresa, por exemplo, uma fábrica, preocupar-se em verificar a qualidade de seus produtos somente na saída dos processos produtivos, separando os itens não conformes dos conformes e descartando ou retrabalhando os que possuem problemas, buscará o clássico: “fazer certo na primeira vez”. Isso traz enorme economia ao sistema produtivo em geral e confiança ao consumidor final. A grande dificuldade é que não estamos comparando um objeto físico com uma especificação definida que pode ser medida com um instrumento metrológico, mas um conjunto de conceitos expressados por políticas, procedimentos e instruções operacionais. Isso requer auditores experientes e com visão sistêmica. Mas o resultado da implantação de um sistema de gestão se traduz em ganhos enormes para a organização. Coisas simples, como por exemplo: será que entendi a solicitação do cliente? Ou tenho recursos para atender a esse pedido na qualidade, quantidade e prazo requeridos? São alguns exemplos de ações que são requisitos para sistemas de gestão certificados. Por que certificar? A resposta é que como esses sistemas são complexos e sofisticados é bom ter uma opinião externa e independente para ter certeza de que todo o investimento realizado foi bem aproveitado e que o sistema implantado irá funcionar conforme o planejado. Além disso, dá aos clientes uma confiança maior no fornecedor e na sua capacidade de atender aos requisitos solicitados.

Abrac – Com o passar do tempo, a sociedade tem que se adaptar a diferentes momentos. Como tem sido para a área de Sistemas o cenário da pandemia?

José Joaquim do Amaral Ferreira – O maior problema enfrentado na área de Sistemas durante a pandemia foi com relação às auditorias que foram sempre presenciais, com raras exceções. Os auditores, que fazem as avaliações da conformidade dos sistemas de gestão passaram a ter de obedecer inúmeros protocolos de saúde, dificultando bastante a presença nas empresas. Outro efeito surpreendente foi a adoção em larga escala do home office. As organizações de serviços praticamente deixaram de ter uma sede centralizada, com a maior parte dos funcionários trabalhando de casa. Então não havia como auditar a sede das empresas. A solução encontrada foi passar a fazer, quando aceitável tecnicamente, auditorias remotas. Essa prática foi adotada no mundo inteiro na pandemia e imagina-se que irá continuar após vencermos essa batalha contra o vírus.

Abrac – Na sua opinião, quais foram os principais avanços que o segmento de Sistemas teve nos últimos anos?

José Joaquim do Amaral Ferreira – Os maiores avanços ocorreram na disseminação maciça da implantação das normas, parte pela exigência dos clientes e parte pela conscientização dos empresários. Com isso as normas foram aperfeiçoadas e passaram a incorporar o conceito da gestão por processos e utilização extensiva de indicadores, permitindo assim um grande avanço de produtividade e qualidade. O conceito inicial de gestão pelo pensamento sistêmico, inicialmente aplicado para a área da Qualidade passou a ser utilizado em Sistemas de Gestão Ambiental, Sistemas de Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional, entre outros. Além disso, as normas passaram a refletir em seus requisitos o ciclo PDCA – Plan, DO, Check, Act – visando a melhoria contínua da qualidade.

Abrac – Como avalia a importância da Associação Brasileira de Avaliação da Conformidade (Abrac) para o setor?

José Joaquim do Amaral Ferreira – A Abrac tem uma importância fundamental por refletir a opinião coletiva dos organismos certificadores. A força da Associação é muito maior que a de qualquer organismo individual. Isso já era sentido na época em que instituímos a ABACC, quando os diálogos com o Inmetro ficaram muito mais objetivos e produtivos. A representação internacional hoje conta com algumas entidades fortes, tipo Abrac, IQNET e o Independent International Organisation for Certification (IIOC), que são inclusive membros associados do International Accreditation Forum (IAF). A entidade brasileira representa uma ideia coletiva de técnica e ética à serviço da avaliação da conformidade, sendo um dos esteios da manutenção desse arcabouço de gestão necessário à manutenção da competitividade internacional do Brasil.

Fonte: Assessoria de Imprensa da Abrac